sexta-feira, 9 de março de 2012

Quase você.



      Tinha olhado de relance, então por via das dúvidas o olhei novamente. E é que ele era tão, mas tão, parecido com ele. Todo o seu semblante, textura dos cabelos, o formato das sobrancelhas, os dentes, a altura, os olhos, tudo mesmo. Tão genuinamente e despretensiosamente igual, e algo dentro de mim soou, algo em mim quis que fosse mesmo, outra chance, outro jeito de eu ter de novo, algo de alguém perdido de mim. E comportei-me igual, pra ver se a história se repetia e logo lá no fim eu faria diferente para não acabar e só assim continuar sendo o que deveria ter sido desde a primeira vez. E então, procurando desesperadamente a morte que fomos há tempos, para que o mesmo luto que eu carrego, não venha a se descarregar outra vez. Solenemente, um sinal de que, por favor, era possível achar uma cópia fiel, ou outro fator como, ele em outra pessoa, de novo, só mais uma vez, uma única próxima vez, para que a paz de tê-lo novamente reine e desfigure todos os meus remorsos e saudades. Era a mesma feição, mesmo expressão, o mesmo tom de voz. Serenamente eu quis que fosse ele – por inteiro, por completo. Destreinadamente fiquei, a admirá-lo, de alguma maneira eu o via perante aquele rosto, talvez fosse meia loucura da minha parte, então, foi a que eu quis matar o que era; para conseguir renascer o que foi. Eu quis a morte, logo o recomeço, eu quis assim, apenas, ele de qualquer jeito, por cima desses falsos amores, aos quais venho a me propor a qualquer custo, para que assim consiga tapar esse rombo imensurável de faltas que me consome e que de maneira alguma consigo me acostumar. Eu fujo mil vezes, volto mil e uma vez, na humilde esperança de não pensar e assim pensando, que esse passado é esse chão que enterra as alegrias as quais nem ao menos senti. Que ironia, ele era quase você, por ser quase, discordei de tudo que havia dito, e então, não foi, não fomos. Morremos. Umbrosamente, mais uma vez. 

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